domingo, 11 de novembro de 2012

A Vitrola


Uma das grandes atrações da exposição "Ícones da Música" foi a belíssima vitrola cedida para o tempo da mostra. Para a geração mais nova, nascida no período dos CDs e MP3s, a vitrola se torna sem dúvida um item muito curioso pela sua forma de funcionamento. "E como diabos toca a música apenas com uma agulha arranhando a superfície de um disco?", muitos devem se perguntar. A vitrola que integra esta exposição, do modelo "Voxophon Superphonic" fabricada pela Casa Edison do Rio de Janeiro e revendida pela Casa Odeon Ltda. de São Paulo, é antiquíssima, no formato de um móvel neo-colonial e movida à corda, provavelmente fabricada entre a década de 1910 ou 1920, muito bem conservada pelo professor Alan e sua família, que acredita ter sido adquirida entre 1930 e 1940. O toca-discos ainda se encontra em pleno funcionamento.

A Vitrola a mostra na Exposição "Ícones da Música"
Nada mais apropriado neste momento, com esta peça que faz parte da exposição e da história da música, do que falar sobre a história do toca-discos. A gravação dos sons foi algo revolucionário na história da humanidade e mudou drasticamente a forma como a música passou a ser desenvolvida a partir de então. A gravação do som também revolucionou o cinema, possibilitando filmes falados, assim como em diversos outros setores.


A história do toca-discos é muito antiga... há uma lenda chinesa, de 2000 a.C., que conta que o imperador recebeu uma estranha caixa que continha as palavras que só poderiam ser lidas se fossem ouvidas. Mas a história da gravação começa mesmo no início do séc. XIX, quando Thomas Young conseguiu obter a tradução gráfica das vibrações sonoras através de um aparelho batizado de vibroscópio, que registrava a vibração de um diapasão.


Thomas Edison
Por meio de seu invento chamado fonoautógrafo, o francês Edward Leon Scott de Martinville conseguiu registrar graficamente a vibração da voz, mas ainda sem conseguir reproduzi-la. Até que Charles Cros idealizou a primeira máquina que gravaria e reproduziria os sons, mais tarde construída com êxito por Thomas Edison através de seu fonógrafo, o primeiro armazenador de som da história. O aparelho empregava uma folha de estanho presa a um cilindro, o qual era impressionado por uma agulha movida por um diafragma de mica, seguindo os princípios de Martinville. Em 1877, em Nova Jérsey, nasceu a primeira máquina falante que realmente funcionava: o Tin-Foil Phonograph. A primeira gravação do mundo foi um poema, intitulado "Mary had a little lamb", recitado pelo próprio Edison. Mesmo com o sucesso do invento, as pesquisas sobre a gravação em disco continuaram, tendo entre seus pesquisadores o próprio Edison, Graham Bell e seu primo Chichester, entre outros. Não demorou muito para que os cilindros com folha de estanho dessem lugar aos de cera, que podiam ser gravados e desgravados (como as fitas magnéticas) e o fonógrafo foi um sucesso comercial.

A partir de 1890, surgiram diversas variações dos fonógrafos de Edison. Da impulsão manual (por manivela), o fonógrafo passou a ser comercializado com motor elétrico, motor a corda e até mesmo por um mecanismo impulsionado por água (funcionava ligando-se o fonógrafo a uma torneira). Houve também modelos como o gramofone alemão "Ultraphon" que continha um braço duplo (que reproduzia com eco), o "Columbia Baby Regent" que vinha embutido numa escrivaninha. Houve também um fonógrafo de Edison especialmente construído para escolas de idiomas, equipado com a tecla "language repeat", para repetir um determinado trecho da lição gravada.

Paralelamente aos fonógrafos, o alemão Emile Berliner desenvolveu com êxito, em 1887, o sistema de gravação em disco através de sua máquina, o Grammophone. O sistema de Berliner concebia a gravação lateral, que consistia no registro das vibrações na parede do sulco e não mais em seu leito, o que tornava o volume do som e a durabilidade do sinal gravado maiores, tornando possível a produção a partir de matrizes (algo que com os cilindros não era possível), num processo bem mais simples do que o anterior. O material mais usado para a fabricação do disco era uma massa largamente empregada até 1948, composta de acetato de celulose, colofônia (resina de jatobá ou cera de carnaúba no Brasil), negro de fumo, gesso e goma laca. Eram discos pesados, duros e quebradiços. Durante seus primeiros anos, o disco de Berliner somente foi empregado em brinquedos. Somente seis anos após sua invenção, foi que o gramophone passou a ser comercializado como máquina falante pela United States Gramophone Company. 

"His Master's Voice" de Francis Barraud
O fonógrafo continuava em seu sucesso comercial, fazendo com que o pintor Francis Barraud, que frequentemente exibia suas obras na Academia Real de Londres, pintasse Niper, seu cachorro, ouvindo um fonógrafo de Edison, quadro que recebeu o nome de "His Master's Voice" (a voz do dono). Barraud tentou vender a ideia à Edison, mas não havendo o mínimo interesse por parte desta, Barraud resolveu substituir a máquina de Edison pelo gramofone de Berliner na pintura, ideia que foi aceita imediatamente pelo alemão, passando a ser a marca da Victor Talking Machine Co. (fabricante de gramofones e discos, hoje de nome RCA Victor), desde 10 de julho de 1900. A pintura ajudou a impulsionar a rápida popularização do gramofone e o disco, que foram gradualmente tomando o lugar do cilindro de cera e dos fonógrafos de Edison.

Para o disco se aperfeiçoar só lhe faltava ter dois lados. A resposta definitiva somente foi dada mais tarde por Adhemar Napoleón Petit, que criou o processo de prensagem que possibilitou a produção de discos gravados nos dois lados. Antes disso, foram comercializadas algumas edições contendo dois lados, que nada mais eram do que dois discos de um lado só, colados um no outro.

Tom Jobim, Pixinguinha, Donga e Chico Buarque
Em agosto de 1891, Frederico Figner embarca para o Brasil, levando em sua bagagem um fonógrafo elétrico que funcionava com pilhas, além de cilindros virgens – o embrião da futura Casa Edison do Rio de Janeiro (batizada assim em homenagem a Thomas Edison). O grande mérito de Frederico Figner foi seu pioneirismo no comercialização de fonógrafos e gravações no Brasil. A Casa Edison, além de casa comercial, também realizava gravações, muitas das quais marcaram a história. Ao longo de sua existência, a Casa Edison teve poucos concorrentes, que nunca chegaram sequer a igualá-la. Entre seus artistas, havia o conjunto dos Oito Batutas, que incluía entre seus componentes dois jovens conhecidos como Pixinguinha e Donga. Donga, inclusive, foi o responsável pela composição de uma das mais célebres gravações da Casa Edison intitulada “Pelo Telephone”, gravado em 1917, considerado por alguns como o primeiro registro de um samba no Brasil. As ceras eram gravadas e enviadas ao exterior para se transformarem em discos (à época chamados de chapas). Em 21 de dezembro de 1912 era prensado o primeiro disco totalmente produzido no Brasil. Era o início das atividades da Fábrica Odeon no Brasil.

Em 1925, veio a gravação elétrica e cada marca adotou um nome comercial. A Victor lançou a Ortophonic Recording, a Columbia a Viva Tonal, a Odeon a Veroton. No mesmo ano a velocidade da gravação foi uniformizada mundialmente em 78 RPM. Os gramofones ainda eram acústicos (sem amplificadores), apesar de já serem montados em móveis com a corneta embutida e compartimentos para armazenar discos. O curioso é que todo aparelho de corneta embutida tinha o sufixo “ola” na marca. Assim o aparelho de Edison que reproduzia os cilindros de amberol era a “Amberola”, da Columbia era a “Grafonola”, da Odeon era a “Odeonola” e a da Victor era a “Victrola”. O nome Victrola era utilizado para designar o “top” de linha da Victor. Vulgarmente, os aparelhos de corneta embutida passaram a ser conhecidos como vitrolas ortofônicas, que nada mais eram que gramofones montados em móveis. A qualidade de reprodução era melhor, mas ainda deixava a desejar. Ainda em 1925, a Radio Corporation of America (RCA) lançou o "Radiola 104", um alto falante para rádios desenvolvido pela General Electric Co., que daria o impulso necessário ao surgimento da máquina falante elétrica.

Em 1948, Peter Goldmark lançou o LP. O ruído diminuiu e a fidelidade foi aumentando com o aperfeiçoamento técnico até surgir, na década de 80, o Compact Disc que, com todo o avanço que significou, ainda é um suporte de gravação que depende do movimento para reproduzir. Hoje estamos diante dos mais fantásticos recursos disponíveis através da Internet, onde se pode obter gravações através do processo de download de arquivos sonoros.


Fonte: Marcelo de Almeida - Jornal Movimento
http://www.jornalmovimento.com.br

Imagens: Google

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário, que será sempre bem vindo. Responderei assim que possível!